A Economia dos Criadores na Era Pós-Ingênua da Internet: Construindo Miniversos de Valor
- Bruno Calixto
- 1 de dez.
- 4 min de leitura
A discussão contemporânea sobre a internet mudou de um idealismo grandioso para o reconhecimento de realidades mais duras, como o "tecnofeudalismo", o "extrativismo de plataforma" e a dominação da "economia da atenção" em quase todos os aspectos da vida. Em 2025, o sonho de uma internet livre e aberta não está morto, mas tornou-se significativamente mais complicado.

Nesse contexto, a pesquisa da Mozilla Foundation identifica o surgimento de uma "Era Pós-Ingênua da Internet", marcada por uma mentalidade mais prática e realista. Essa geração pós-ingênua está focada na construção de infraestrutura digital baseada em um conjunto diferente de valores, estruturas e ideologias para servir às suas comunidades. Em vez de lutar por uma internet livre e aberta para todos, eles constroem infraestrutura digital primariamente para suas comunidades e suas necessidades.
O Desafio Extrativista e a Necessidade de Sustentabilidade
A necessidade de uma mudança estrutural é particularmente evidente na economia dos criadores, onde as plataformas dominantes demonstram ser extrativistas, ou seja, extraem, mineram, o potencial de criação dos seus usuários e ficam com quase tudo o que geram de receitas, repassando muito pouco para os creators. No setor musical, aceitou-se que plataformas como o Spotify dificilmente ajudariam os músicos a obter uma renda sustentável, dado que o pagamento médio é de apenas $0,003 por stream (reprodução), beneficiando apenas o 1% dos artistas.
O caso da venda do Bandcamp em 2022 serviu como um momento decisivo para muitos, reforçando a lição de que plataformas que começam com boas intenções frequentemente sucumbem à lógica do capital de risco, que exige retorno financeiro (ROI). A luta agora é por construir infraestrutura digital primariamente para comunidades e suas necessidades específicas.
A Profissionalização do Criador e o Surgimento do "Artista-Fundador"
O realismo da Era Pós-Ingênua reconhece que a influência no mundo hoje não se trata de alcançar escala, mas sim de desenvolver as condições que determinam como a cultura é criada, distribuída e monetizada. Esse foco na monetização, sustentabilidade e distribuição requer uma profissionalização da atividade do criador, transformando o artista em um "construtor" ou "empreendedor" de sua própria infraestrutura.
Essa nova abordagem está sendo ativamente apoiada por novos modelos de "Catalysts" (Catalisadores) e "Platforms & Protocols" (Plataformas e Protocolos):
• Apoio ao "Artista-Fundador": Surgem aceleradoras, como a Restless Egg, que fornecem capital inicial e mentoria ao novo tipo de "artista-fundador". O objetivo é ajudar esses criadores a levar seus protótipos experimentais à vida, para além dos muros da galeria.
• Sustentabilidade Estrutural: Projetos como a Subvert — uma plataforma de música de propriedade cooperativa de seus membros (incluindo artistas, selos e apoiadores) — implementam um modelo de propriedade radicalmente diferente. Esse modelo estruturalmente inovador molda a forma como as decisões são tomadas e visa a criar um sistema mais sustentável para os artistas.
• Monetização Transparente e Profissional: Plataformas como a Metalabel são construídas para que os criadores colaborem e dividam os lucros (split earnings) em tesourarias compartilhadas, repensando o modelo de distribuição de receita. Da mesma forma, a Nina é uma plataforma que busca capacitar artistas independentes fornecendo um ecossistema transparente e descentralizado para vendas diretas entre fãs e criadores.
Essas iniciativas movem a economia do criador de um sistema de dependência e competição algorítmica para um modelo de propriedade, colaboração e transparência, pilares essenciais para a profissionalização da atividade criativa.
A Mudança Estrutural e a Geração Pós-Ingênua
A mudança que define essa nova era deve ser estruturalmente diferente. A geração pós-ingênua está focada em criar estruturas moldadas em torno dos valores centrais de suas comunidades. Em vez de metaversos, eles se concentram em "miniversos" habitados por comunidades e subculturas específicas.
A infraestrutura digital desses miniversos está sendo construída em quatro camadas distintas, visando apoiar essa nova mentalidade profissional e comunitária:
1. Nível Estrutural: Envolve a propriedade da plataforma, como a Subvert que é coletivamente possuída por seus membros.
2. Nível de Valor: Focado na ideologia incorporada, como a Metalabel, construída para que os criadores colaborem e dividam os lucros, em vez de competirem.
3. Nível de Design: Diz respeito à forma como o conteúdo é apresentado, como a rede social Perfectly Imperfect, que projeta seu feed em torno de recomendações criadas por humanos, em vez de conteúdo otimizado por algoritmos.
4. Nível Comunitário: Foca em estruturas de governança descentralizada para evoluir junto com as necessidades da comunidade, como é o caso do Trust em Berlim.
Conclusão: Realismo e Construção de Ilhas de Valor
A geração pós-ingênua pode ter trocado o idealismo pelo realismo, aceitando a internet de hoje pelo que ela é. No entanto, em vez de tentar mudar o mar inteiro, esses projetos são "ilhas" interconectadas que constroem ativamente alternativas ao status quo. O objetivo não é o crescimento em escala, mas sim a criação de veículos alternativos que sirvam às necessidades das comunidades em níveis estruturais, de valor, de design e comunitário.
A convicção é que a mudança pode ocorrer através da infraestrutura digital, que tem o poder de tornar os valores da comunidade uma realidade. A construção desses miniversos — e o apoio à profissionalização do criador como "artista-fundador" — é a maneira pela qual a cultura que desejamos está sendo construída na Era Pós-Ingênua.
*Este artigo foi baseado na pesquisa publicada pela Mozilla Foundation, você acessa o contéudo completo através do link: https://www.mozillafoundation.org/en/nothing-personal/the-post-naive-internet-era/ Bruno Calixto | Seu aliado jurídico no mundo digital.
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